Num vilarejo chamado Indayal, praticamente esquecido pelo Império Brasileiro, no dia 13 de julho do ano de 1873, os imigrantes alemães residentes na localidade de Warnow, Colônia de Blumenau, com o intuito de diversão, organização de milícia, passatempo e confraternização fundam a Schützengesellschaft Warnow (Sociedade de Atiradores Warnow). A entidade oficializou sua constituição apenas em 20 de dezembro de 1879, com o registro de seu estatuto perante a Presidência da Província de Santa Catarina.”
Como confirmam o quadros expostos no salão de baile da sociedade, já no ano de 1874, eram realizados os primeiros festejos oficiais da entidade, denominados “Tiro ao Rei”, sendo primeiro Rei o sr. C. Seifert. Nessa época, a utilização de armas era não só um divertimento, mas também uma necessidade, tanto para defesa contra os índios, verdadeiros donos desta terra, cada vez mais acuados(encurralados) ao interior pelo progresso “civilizatório”, quanto para as caçadas do dia-a-dia. Sem contar as constantes turbulências que o Império passava, principalmente com a Guerra do Paraguai (1864/1870).
Desta forma percebe-se nitidamente esta prática já no art. 2º do estatuto da Sociedade de Atiradores Warnow, que diz o seguinte:
“Art. 2º Esta sociedade tem por fim:
§ 1º. Exercícios de atirar ao alvo.
§ 2º. Educar o povo em bom costumes e moralidades.
§ 3º. Enobrecer os divertimentos.
§ 4º. Dar festejos combinados com os exercícios ordinários.
§ 5º. Festejar os aniversários de sua instalação, com toda a solenidade e formalidade do festejo denominado O ATIRAR DO REI.”
Outro fator que faz crer no fim de organização militar da sociedade é a existência do CAPITÃO, como membro da diretoria, composta pelo presidente, secretário, caixeiro (tesoureiro) e capitão. Competia ao Capitão, nos termos do Art. 9º:
“Instruir os consocios nos exercícios de armas e evoluções necessárias para habitá-los a marchar em forma militar para o lugar da festividade, bem como comandar os sócios em ordem de marcha até o local do festejo.”
Esse enfoque remete também a cultura prussiana, marcada indelevelmente pelo alto grau de militarismo.
Com o passar dos anos e a chegada do século XX, a organização militar das sociedades passa a ser apenas uma tradição, preservando as lembranças dos tempos difíceis.
Percebe-se ainda, analisando melhor o artigo segundo, a total despreocupação do Governo Imperial pela educação da população em geral, o que era explícito na época. A política era manter o povo na ignorância para mais facilmente manipulá-lo. O que amenizou um pouco essa situação em nossa região foi o modelo trazido pelos alemães, onde as escolas já eram obrigatórias desde 1850. Com a inércia do governo, os colonos organizaram escolas comunitárias onde os pais se juntavam para pagar as despesas (construção, reformas e pagamento de professores) e iniciar seus filhos nas primeiras letras. Muitas vezes as construções e reformas eram feitas pelos próprios colonos em forma de mutirão. Esse sistema ficou conhecido como “teuto-brasileiro”. Era inadmissível para os colonos que suas crianças ficassem fora da escola.
Passado esse período inicial, as escolas começaram a ser organizadas pelas ordens religiosas, já que na maioria das vezes eram os padres e freiras ou pastores luteranos os contratados pelos colonos para lecionar, ante a constante falta de professores formados.
O Estatuto da Sociedade de Atiradores Warnow escrito inicialmente em alemão e posteriormente transcrito para o português, no seu Art. 1º. estatui:
Fica constituída na Colônia Blumenau, uma Sociedade de Atiradores sob a denominação de “Warnow”. Na língua materna dos fundadores era assim denominada, “Schützengesellschaft – Warnow”.
O estatuto da entidade foi devidamente registrado, conforme determinava a Lei Geral do Império n.º 1.083, de 22 de agosto de 1860, perante o Presidente da Província de Santa Catarina, o então Bacharel Antonio d’ Almeida Oliveira. O Presidente a época do registro do estatuto era Leopoldo Hoeschl.
Warnow era passagem obrigatória dos tropeiros que se deslocavam do Litoral para os campos de Lages, por onde escoava boa parte da produção de charque dos estancieiros gaúchos para ser distribuído pelo país.
Até a efetiva fixação da sede, na hoje rua D. Pedro II, a Sociedade estabeleceu-se em outros dois lugares, mas sempre nas redondezas e nunca distando mais de 1.600 metros de onde fica a atual construção. Contam que as primeiras construções eram rústicas e cobertas de palha trançada, sempre em terreno alugado ou emprestado. Em terreno próprio só a partir da construção da terceira e atual sede.
Na época, as pessoas também reuniam-se na sociedade para divertir-se, conversar sobre os assuntos cotidianos e descontrair-se. Era um ponto de encontro, de interação.
A Sociedade tinha ainda três sócios Ilustres, o Diretor da Colônia Dr. H. Blumenau, o presidente da Província de Santa Catarina, e Dom Pedro II, que apesar dos inúmeros boatos, infelizmente nunca assinaram os estatutos de fundação. Era costume na época colocar o Imperador e outras autoridades como sócios da entidade, para dar mais prestígio a mesma.
Durante a Campanha de Nacionalização do Governo Vargas, todas as associações de atiradores e caça e tiro, foram fechadas e proibidas de atuar sob qualquer circunstância, tendo suas armas e documentos apreendidos. Reaberta em 1948, a Sociedade de Atiradores Warnow, teve seu estatuto e nome alterados. Passou a chamar-se Sociedade Recreativa Warnow. Os documentos e armas foram devolvidos, graças ao auxílio do então Deputado Estadual Wigand Persuhn (1º Deputado Estadual de Indaial, eleito em 19.01.1947, pelo PSD – Partido Social Democrático – com 2.142 votos).
A primeira Festa de Tiro ao Pássaro aconteceu no dia 18 de janeiro de 1953, consagrando-se Rei o sr. Arno Ebert. Um detalhe interessante é que as mulheres não participavam dos festejos e eventos, apenas os homens. Essa realidade muda com a evolução dos tempos, registrando-se a presença feminina (como atiradoras) já na festa de Rei do ano de 1987. Passa-se a anotar nos registros oficiais da Sociedade, não só “Rei do Tiro”, mas também “Rainha” (sendo primeira rainha a sra. Elfrida Stahnke).
Esta justa adequação nos anuncia o prelúdio de uma forte mudança social, a qual efetiva participação feminina nas questões sociais e de trabalho. Tal transformação materializa-se com a Constituição de 1988, que afirma: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.
No ano de 1991 foram iniciadas as atividades de Rei dos Reis e Rainha das Rainhas, que são competições onde participam apenas os sócios que já foram Rei. O primeiro a tornar-se Rei dos Reis foi Luiz Polidoro e a primeira Rainha das Rainhas foi Rosane B. Büchner.
Dezembro de 2006
Anderson Luz dos Santos – Batata
Bel. em Direito e Acadêmico de História.
Revisão e Colaboração do Professor Msc. Aquiles Duarte de Souza