Quase nada se sabe da vida desse caboclo itajaiense, além do que o Dr. Blumenau dele escreveu, em carta a amigos na Alemanha. Como é sabido em 1848, o Dr. Blumenau, antes de resolver a colonização do Vale do Itajaí, promoveu uma viagem de exploração do rio e terras ribeirinhas. Para tanto e em companhia de seu amigo e sócio Fernando Hackradt, alugou duas canoas, com os respectivos canoeiros, conhecedores da zona e práticos de todos os perigos que se apresentavam a navegação no grande curso d´água. Numa delas, a que era dirigida pelo caboclo Ângelo Dias, embarcou o Dr. Blumenau
Quando chegaram na barra do Ribeirão da Velha, nas proximidades do escritório da Estrada de Ferro Santa Catarina, Hackradt ficou com o seu canoeiro a fim de explorar os terrenos adjacentes, enquanto o Dr. Blumenau, com Ângelo Dias, seguiu rio acima. Transpuseram o salto (atualmente Empresa de Força e Luz) e depois de vários dias de viagem, chegaram à Subida, de onde regressaram à confluência do salto, semeadas de escolhos e perigos de toda sorte, prova que Ângelo dias não era um canoeiro qualquer. A empresa requeria além de perícia, decisão e coragem. E certamente, tais virtudes deveria possuir o pescador itajaiense, pois é sabido que Blumenau era muito minucioso na escolha dos seus auxiliares e, certamente, antes de tomar Ãngelo Dias para seu companheiro e guia de viagem, deve ter-se informado bem da sua capacidade e demais predicados.
Sabe-se, pelas cardas do Dr. Blumenau que, ao chegarem, ele e Ângelo Dias, à confluência do Rio Benedito (Indaial), o último negou-se a continuar a viagem, rio acima, por ter-se esgotado a provisão de cachaça, “combustível” sem o qual o “motor” de Ângelo Dias não funcionava. Não se sabe como foi que Dr. Blumenau conseguiu resolver o impasse; se pela persuasão, ou por ter conseguido arranjar a “água que passarinho não bebe”. Isso não seria impossível, dado que, ao que tudo indica, já naquela época, as proximidades da embocadura do rio Benedito, contavam com alguns habitantes caboclos que, mais provavelmente, possuíam engenho de açúcar e alambique. O fato é que os exploradores chegaram até Subida, onde o rio, pelas suas muitas corredeiraa, e saltos não mais oferece possibilidade de navegação.
Isso é tudo quando a história de Blumenau registra sobre Ângelo Dias. De uma busca nos livros de assentos e batizados, casamentos e óbitos na matriz de Itajaí, certamente resultarão de outros dados a respeito da vida desse obscuro canoeiro. Sabemos também que era freguês de Luis De Moro, ou Demoro, tanto assim que naquele mesmo ano de 1848, tendo sido iniciado o inventáro procedido por morte de dona Rita Bernardina, esposa daquele negociante, Ângelo Dias figurava entre os devedores do espólio, com quantia de 24$000, (É verdade que haviam devedores de quantias muito maiores)
Seja como for, Blumenau não deve esquecer o nome Ângelo Dias, que poderia figurar muito bem e com inteira justiça, em uma das ruas de nossa cidade, com uma eterna lembrança da primeira exploração do rio Itajaí-Açú pelo Dr. Hermann Blumenau.
(Extraído de Blumenau em Cadernos, Outubro de 1960)